ATENA NA MITOLOGIA
Atena foi a única habitante do Olimpo sem uma verdadeira mãe:nasceu da cabeça de Zeus, o deus supremo da Grécia. Sendo assim, ela permanece como representante suprema da sabedoria do pai, tendo nascido simbolicamente da cabeça do Estado, ou seja, da cidade de Atena.
Diz o mito do seu nascimento que Zeus, tendo deixado prenhe a titã Metis, e temendo vir a ter um filho que pudesse destroná-lo, engoliu essa potestade por inteiro. Posteriormente, teve uma dor de cabeça e convocou Hefaístos, o ferreiro, para rachar-lhe o crânio com um machado. Com um grito de batalha selvagem, Atena "nasceu", já adulta e inteiramente armada.
Nesse mito, há por certo uma alegoria política do modo como as tribos invasoras mais patriarcais, que adoravam o Deus Pai, Zeus, assimilaram os cultos matriarcais que os precederam.
Como Metis era a deusa da sabedoria, há uma sugestão de como os homens assumiram para si certos direitos, que não lhes pertenciam pelo nascimento.
Atena é a restauradora da sabedoria (metis) que Zeus digerira e transformara, mas que necessitava manifestar-se sob a forma feminina. Atena é o que Jung chamaria de anima de Zeus, seu aspecto feminino criativo. Mas sua ligação com seu corpo feminino recebe tratamento oposto: tudo o que há de meigo e feminino em seu corpo permanece oculto, sob várias couraças protetoras. Atena rejeita o casamento e qualquer forma de sexualidade. Referimo-nos aqui a mulher Atena pura (o que é muito difícil de se encontrar no mundo real).
Vivenciar o poder de Atena até muito recentemente era muito raro: encarnações reais do seu arquétipo só começaram na época moderna, com exceção do século XII, na época da cultura provençal no sul da França, como Leonor de Aquitânia e Marie de Champagne, que foram líderes de uma cultura em que as mulheres eram iguais, livres, instruídas e poderosas. Mas esse período durou pouco.
Como Metis era a deusa da sabedoria, há uma sugestão de como os homens assumiram para si certos direitos, que não lhes pertenciam pelo nascimento.
Atena é a restauradora da sabedoria (metis) que Zeus digerira e transformara, mas que necessitava manifestar-se sob a forma feminina. Atena é o que Jung chamaria de anima de Zeus, seu aspecto feminino criativo. Mas sua ligação com seu corpo feminino recebe tratamento oposto: tudo o que há de meigo e feminino em seu corpo permanece oculto, sob várias couraças protetoras. Atena rejeita o casamento e qualquer forma de sexualidade. Referimo-nos aqui a mulher Atena pura (o que é muito difícil de se encontrar no mundo real).
Vivenciar o poder de Atena até muito recentemente era muito raro: encarnações reais do seu arquétipo só começaram na época moderna, com exceção do século XII, na época da cultura provençal no sul da França, como Leonor de Aquitânia e Marie de Champagne, que foram líderes de uma cultura em que as mulheres eram iguais, livres, instruídas e poderosas. Mas esse período durou pouco.
Porém esse anseio, mesmo na Grécia antiga, deve ter existido como nos conta o mito das amazonas, que seria uma sociedade de ferozes mulheres guerreiras. O que pode perturbar mais o ego masculino que uma mulher inteligente, que não só enxerga as falhas que ele cometeu como como se recusa a desculpá-las pelo simples fato dele ser homem?
Afinal, conhecimento e posterior a ele, educação - é poder.
AMOR E CASAMENTO
A adolescência e o ínicio da fase adulta pode ser de caos e confusão na vida de uma jovem Atena. Ela já está caminhando rumo ao mundo paternal, onde terá de sobreviver. Por toda a vida haverá um certo grau de reserva na vida da mulher-Atena. Apesar de toda sua experiência no mundo e de seu savoir faire, sua sexualidade permanece indistinta (isso diz respeito ao arquétipo puro de Atena). A mulher-Atena quer ser bem sucedida no mundo. Assim, não deixará que companheiro algum venha limitá-la em qualqquer aspecto ou querer dela um compromisso maior com a carreira ou personalidade dele. O casamento da mulher-Atena será muitas vezes tempestuoso.
ATENA E O MUNDO PATERNAL
É praticamente impossível falar de Atena no mundo moderno sem tratar de seu relacionamento com os pais. Tarefa nada fácil. As mulheres têm demonstrado em todo o mundo ser igualmente capazes de exercer lideranças criativas e de demonstrar capacidade de decisão em todas as situações de poder estabelecidas pelos homens. Essa é uma revolução social sem precedentes na história ocidental. Afinal, o que primeiro notamos no mito do nascimento de Atena é que ela nasce da cabeça de Zeus, a segunda é que surge completamente armada, pronta para agir.
A mulher de hoje não é nenhuma estudiosa presa numa torre de marfim: pelo contrário, quer estar no âmago da batalha - seja política, social ou intelectual.Orgulha-se de ser independente do mundo patriarcal.
As exigências feitas as mulheres-Atena hoje pelo inóspito e hostil mundo paternal faz com que elas tenham de ser duras e determinadas (a armadura), como qualquer minoria oprimida. Têm que ser duas vezes melhores em qualquer campo que atuem. Particularmente se estiver tentando desincubir-se de suas tarefas como Deméter, criando filhos, ou como Afrodite, querendo parecer encantadora aos olhos de seu amante.
A CHAGA DE ATENA
A última coisa que a jovem Atena quer é parecer com a mãe - que representa a domesticidade e a maternidade. Ela deseja ir justamente na direção oposta, ser independente pessoal e financeiramente.
Nascida do intelecto paterno para o mundo, toda a sua energia deve desenvolver-se na cabeça. Essa ênfase excessiva nas coisas da mente significa para ela uma negação profunda da realidade corporal: o diagnóstico hoje seria anorexia. Paradoxalmente, o que Atena mais precisa é a natural meiguice de uma mãe, enfim, de colo. Uma maior necessidade de atenção as necessidades físicas do corpo e de um amor incondicional.
Ao firmar sua própria personalidade no mundo identificando-se com o pai - incorporará em si a negação dele ao princípoio materno, amarguradamente alienando-se dos princípios maternais de sua própria identidade. Jung descreveu, em termos vívidos, como a mulher pode chegar a extremos dolorosos de rejeição inconsciente da mãe. Ele chama essa negação "de "exemplo supremo do complexo materno negativo". Diz ele:
O lema desse tipo é "qualquer coisa, desde que não como mamãe. Essa espécie de filha sabe o que não quer, mas em geral está completamente desnorteada quanto ao destino que deseja para si. Todos os seus instintos estão concentrados na mãe sob a forma negativa da resistência e, portanto, não tem utilidade alguma para construir sua vida".
Nessa descrição vívida de Jung, vemos Atena ferida ao máximo, ferida e frustantemente separada das raízes de sua feminilidade, presa num círculo vicioso cuja realidade sua mente nega. Embora possa encontrar um certo apoio no mundo paternal de sua carreira ou tornar-se uma intelectual, essa mulher-Atena ferida acaba constatando que é incapaz de atuar plenamente em qualquer dos dois planos, de tal forma suas perturbações lhe consomem as energias.
A imagem grega de Atena como uma donzela de espada e armadura sugere uma rígida tensão entre uma rija persona "masculina" externa e uma interioridade feminina hipersensível e extremamente vulnerável, embora atrofiada ou virginal por permanecer intocada. Até mesmo as mais bem sucedidas e carismáticas mulheres-Atena revelarão em terapia o quanto se sentem ansiosas e inseguras por dentro, a despeito de tudo que realizam externamente e de todo o reconhecimento que recebem.
Essa experiência de cisão entre a frágil donzela interior e a rija e obstinada lutadora exterior tende a ser aceita como algo natural por aquelas mulheres que vivem intensamente no mundo de Atena. Visto que interiormente elas se percebem como pessoas sensíveis e relegam sua persona por saber tratar-se de uma fachada, essas mulheres parecem não estar cientes do efeito que sua identidade exterior tem sobre as outras pessoas.Eis o paradoxo que nos leva ao cerne da chaga de Atenas: como um animal machucado, a mulher-Atena profundamente ferida irá afugentar com selvageria todos aqueles que mais poderiam ajudá-la, pois não tem como desarmar suas defesas, tirar sua armadura e expor a essência nua de sua feminilidade.
ATENA HOJE
No mundo moderno é fácil identificar Atena: ela está no mundo, editando revistas, dirigindo departamentos de Universidades, produzindo filmes, na politica, etc, etc...
A mulher-Atena está sempre em evidência por ser extrovertida, prática e inteligente. Os homens ficam um tanto intimidados com ela, visto que ela não reage aos lances sexuais normais e é capaz de colocá-los contra a parede em qualquer discussão intelectual. Conquistando seu respeito a mulher-Atena pode ser a mais leal das companheiras pelo resto da vida.
A energia de Atena é toda extrovertida, suas preocupações envolvem basicamente o mundo: pessoas e idéias, o burburinho das cidades, o debate político e por aí a fora. Atena trabalha ao lado dos homens nos negócios, na política e na educação. Seu espírito encarna em toda parte nas milhares de mulheres que hoje trabalham em todos os níveis da sociedade.
Os homens ficam um pouco pasmados com sua competência e com a agudeza de sua mente; acostumados a ser procurados para dar conselhos, estão sendo obrigados a reconhecer a competência e, muitas vezes, a superioridade da mulher-Atena contemporânea. Pois embora trabalhe junto com eles, não é apenas uma mera auxiliar fiel; ela pode e deve exigir respeito, igual responsabiidade e autonomia.
EXTRAORDINÁRIAS MULHERES-ATENA DA HISTÓRIA
Sem a proteção de um convento ou de um casamento, pouco havia que uma mulher pudesse fazer para manter-se por conta própria no final da Idade Média. Mesmo assim:
CHRISTINE DE PISAN(1364-1430)
Tornou-se a primeira mulher na França a viver da literatura. Tendo nascido em Veneza, deixou a Itália quando seu pai ingressou na corte francesa. Lá conheceu e se casou com um francês que morreu quando ela tinha apenas vinte e cinco anos, deixando-a com três filhos e praticamente sem nenhuma herança. Christine passou então a escrever todo tipo de poesia e prosa, produzindo quinze obras importantes entre 1399 e 1405. Defendeu a dignidade das mulheres e atacou a visão cínica das mulheres implícitas nas obras de alguns homens.
RAINHA ELIZABETH I(1533-1603)
A assim chamada Rainha Virgem associava muitas das virtudes de Atena ao poder efetivo de Hera. Ela inspirou a fase mais grandiosa da história inglesa com sua astúcia e discernimento políticos e visionária liderança nacional. Assim como Atena, adorava a companhia de heróis, rodando-se de exploradores-aventureiros famosos como Sir Walter Raleigh, Sir Francis Drake e o conde de Essex. Todo um culto literário se formou a sua volta inclusive nas peças de Shakespeare. Erudita e tremendamente lida, Elizabeth I era também poetisa. Seus feitos políticos e culturais levando a Inglaterra à condição de grandeza foram inestimáveis.
SOFONISBA ANGUISSOLA (1532-1625)
Seus quadros revelam tal maestria técnica que foram confundidos com os de Ticiano. Desprezada até recentemente pelos historiadores da arte, Sofonisba foi uma pintora altamente respeitada no final da Renascença, tendo sido orientada na juventude por Michelangelo. Durante vinte anos, trabalhou como pintora de retratos para o rei Felipe II, da Espanha, estabelecendo uma reputação internacional com suas obras intimistas e originais. Quando já estava com 92 anos de idade, recebeu o jovem Anthony Van Dyke para estudar sua brilhante técnica.
MARY WOLLSTONECRAFT (1759-1797)
Escritora do manifesto radical "A Vindication of the Rights of Women",embora fosse íntima de muitos líderes revolucionários na França, logo percebeu que a Revolução Francesa não estava promovendo a liberação das mulheres, como ela e seu círculo esperavam. Essa desilusão inspirou o seu famoso tratado em 1792, uma obra acertadamente chamada de "o primeiro grande documento feminista", em que escreveu: "Lanço aqui um desafio. É hora de devolver às mulheres sua dignidade perdida e de torná-las parte da espécie humana". Esse grande repto de Atena ainda continua válido.
SOJOURNER TRUTH (1797-1883)
Instada por vozes interiores para pregar a emancipação dos escravos e os direitos das mulheres, Sojourner Truth deixou seu emprego doméstico para viajar por todo o Norte dos Estados Unidos. Embora fosse analfabeta, ela era uma oradora notável e destemida. Viajava a pé, falando dos abusos e das indignidades da escravidão que ela e seus parentes conheciam. Trabalhou incansavelmente para arranjar empregos para escravos libertados depois da guerra civil e, em 1850 publicou sua autobiografia, que a ajudou a manter-se financeiramente.