7 de jan. de 2013

ARQUÉTIPO DA MULHER SELVAGEM

O termo Mulher selvagem  refere-se à essência da alma feminina, antes que séculos de "civilização" fizesse com que as mulheres perdessem o rumo do seu próprio destino, sem saber o que eram, o que queriam e  para onde iriam.
Durante estes séculos foi esmagada na mulher o contato natural com a sua psique, o seu "Self", o seu "Eu Interior". Os seus ciclos naturais foram transformados à força em ciclos artificiais, através da opressão, para que elas se adequassem as circunstâncias e agradassem aos outros.
Mas a vitalidade da mulher pode ser resgatada através de longas (e dolorosas) escavações "psiquico-arqueólogicas" nas ruínas do mundo subterrâneo feminino, recuperando a psique instintiva natural, que foi perdida na pressão de ser tudo para todos.
Após a segunda guerra mundial as mulheres foram infantilizadas e tratadas como propriedades. Qualquer criatividade tinha de ser feita de forma clandestina, e não recebiam nenhum reconhecimento, quando  não repreensão. Que medo profundo tinham as mulheres para que fossem mantidas no que os  homens consideravam correto para elas? Os homens e a sociedade usavam de tudo para manter essa opressão:os filhos, a casa, até a própria sobrevivência.
Era uma época em que os pais maltratavam seus filhos, e eram considerados severos (com aplauso); em que as lacerações das mulheres profundamente exploradas eram denominados "colapsos nervosos". As mulheres e meninas que viviam amordaçadas em cintas eram consideradas "certas", enquanto aquelas que conseguiam fugir da coleira uma ou duas vezes na  vida eram consideradas "erradas".
Por isso as mulheres passaram sua infância e juventude como criaturas disfarçadas. Mas não esqueceram do canto profundo de suas almas, da  mulher selvagem que existe em cada uma. A natureza selvagem não exige que a mulher tenha uma cor determinada, instrução, um estilo de vida ou classe econômica determinada. Ela  só não consegue crescer na atmosfera do "politicamente  correto", ou quando  é forçada a se amoldar a velhos paradigmas obsoletos. Ela viaja em visões novas de integridade individual, a própria natureza.

Hoje o mundo virou de cabeça para baixo: do ponto de vista de algumas décadas atrás, todas as muheres ficaram "erradas". Dizem que fazem o que querem, mas na realidade estão isoladas do seu verdadeiro "Self",seguindo os padrões de beleza, a dupla jornada de trabalho, procurando ser uma "expert" nos padrões sexuais, e para quem? Certamente continua oprimida por essas coisas, só que agora tem de sustentar-se a si mesma.

Para encontrar a mulher selvagem é preciso que nos voltemos para nossa natureza instintiva, nossa sabedoria mais profunda. A questão é simples:sem nós, a Mulher Selvagem morre. Sem  a Mulher selvagem nós morremos. Para a verdadeira vida, ambas tem de existir. Só na prática a mulher compreende a natureza da Mulher Selvagem. Trata-se de conhecer a alma da mulher: sem ela, a mulher não pode ouvir o discurso de sua própria alma, sua visão íntima é impedida por uma sombra e grande parte de seus dias é passada num tédio paralisante ou então em pensamentos ilusórios. Sem ela, ela se esquece do motivo pelo qual está aqui; exigem demais, de menos ou nada. Se calam quando de fato estão ardendo.

A Mulher Selvagem é saúde para todas as mulheres. Essa mulher não domesticada é o protótipo da mulher, não importa a época, a cultura, a política, ela é sempre a mesma. Mesmo a mulher mais reprimida tem uma vida secreta, com pensamentos e sentimentos ocultos que são exuberantes e  selvagens.

Os sintomas associados aos sentimentos de um relacionamento interrompido com a força selvagem da psique são: sensação de extraordinária aridez, fadiga, fragilidade, depressão, confusão, sensação de está calada à força. Pode escolher parceiros, amizades ou empregos que lhes esgotem a energia e sofrer por viver em desacordo com seus próprios ciclos. Estes são apenas uns poucos exemplos do que pode acontecer à  uma mulher que se encontra nessa situação. 

De que maneira a Mulher Selvagem afeta  as mulheres? Passamos a ver não com dois olhos,  mas com a intuição, que dispõe de   muitos olhos. A mulher Selvagem faz com que saibamos  de tudo que precisamos. Significa integridade; implica em delimitar territórios, encontrar nossa matilha, ocupar nosso corpo com segurança e orgulho, falar e agir  em defesa própria e muitas outras coisas.

E então o que é a Mulher Selvagem? Do ponto de vista da  psicologia arquetípica, ela é a alma feminina. É a origem do feminino. Ela é tudo o que for instintivo, tanto no mundo visível como no oculto: ela é a base. Ela é quem se enfurece diante das injustiças. Ela é a quem gira uma roda enorme, ela é a criadora de ciclos; é a procura dela que saímos de casa. E é a procura dela que voltamos para casa. Ela é tudo que nos mantém vivas quando achamos que já chegamos ao fim.  Ela é a geradora de acordos e de pequenas idéias incipientes. Ela é a mente que nos concebe; nós somos seus pensamentos.

Do livro "Mulheres que correm com os lobos", de Clarissa Pinkola Estés, analista junguiana.