18 de ago. de 2011

ALEXANDRA, A ÚLTIMA CZARINA



Não se sabe porque a  czarina  Alexandra Feodorovna, nascida em 6 de junho de 1872 num Ducado pertencente ao Império Alemão,  e batizada como Alice Vitória Helena Luísa  Beatriz de Hesse e do Reno, neta da Rainha Vitória da Inglaterra, tendo todos os privilégios de uma mulher de sua época, se tornou tão tímida, reservada, e por que não dizer, mau humorada.
 
É verdade que sua irmã May morreu aos  4 anos, logo seguida de sua mãe, de uma onda de difteria que assolou a região. Órfã aos 6 anos de idade, tornou-se muito próxima da avó , a Rainha Vitória passando a viver na Inglaterra, onde ficou durante toda a infância. Consta que antes da morte da irmã e da mãe , tinha o apelido de Sunny,  mas tornou-se amarga e solitária após os acontecimentos. Devido a pouca idade de Alix, como era chamada, acreditamos que era mais de sua própria natureza o temperamento introspectivo, agravado, é claro, pelo acontecimentos.
 
Alice casou-se relativamente tarde tendo em conta a idade própria para casar na época.  Contribuiu para isso  o fato de ter-se recusado a casar-se com o Príncipe Alberto Victor, também neto da Rainha Vitória. Houve forte pressão familiar para que tal união acontecesse, mas Alice já havia conhecido o czarevitch da Rússia, numa festa, tendo por ele se apaixonado, no que foi correspondida. Ele também era aparentada com sua família. Aliás, na Europa daquela época as casas reinantes eram todas aparentadas.

A Rainha Vitória acatou a decisão de Alix, chegando, mesmo a afirmar que estava orgulhosa da sua neta  enfrenta-lá, algo que muitas pessoas, incluindo o seu próprio filho, não se atreviam a fazer. Aí está mais uma pista do caráter de Alice: teimosia? obstinação? força de vontade?

No princípio, o pai de Nicolau, o Czar Alexandre III rejeitou a possibilidade do casamento. Mas seu filho estava apaixonado. A   Sociedade atacava abertamente a Princesa Alice, mas não aprofundavam o assunto, uma vez que tinham certeza de que o Czar e  sua esposa, a Imperatriz Maria, eram totalmente anti germânicos e não iriam permitir o casamento de seu filho com uma princesa alemã.

Era do conhecimento geral que Alexandre III preferia para nora, a Princesa Helena, filha do Conde de Paris, e herdeira do extinto trono da França. Mas a Princesa tambem não quiz o casamento, devido a questões religiosas. Com a saúde do filho deteriorando-se, e tendo em vista os acontecimentos, o Czar consentiu no casamento. 
 

CASAMENTO E COROAÇÃO
Enfrentado as  muitas opiniões contrárias,  Alice, que mudou o nome para Alexandra e se converteu  à Igreja Ortodoxa Russa, casou-se com Nicolau em 26 de novembro de 1894. O casamento realizou-se na Capela  do Palácio de Inverno em São Petersburgo. Foi um casamento sereno, vitoriano, mas baseado num amor físico e apaixonante. A essa altura, Nicolau já era Czar, pois seu pai, Alexandre III, havia morrido em 01 de novembro daquele mesmo ano. Deu-se então um fato curioso: como Alexandra acompanhou a família imperial quando esta regressava a São Petersburgo e, como a morte de Alexandre III havia ocorrido pouco antes,  ela foi cumprimentada pelo povo russo com sussurros uníssonos que diziam: "Ela chega-nos atrás de uma caixão."


 No mais quis o destino que logo depois do casamento e das coroações acontecesse uma trajédia: milhares de pessoas morreram em Moscovo quando pensaram que não haveria presentes comemorativos da coroação para todos. A polícia foi chamada, mas à tarde os hospitais estavam lotados de feridos e todos sabiam o que tinha acontecido. Deu-se um impasse: Nicolau e Alexandra ficaram chocados e o novo czar declarou que não poderia ir ao baile organizado pelo embaixador francês para aquela noite. No entanto, os seus tios imploraram para ele ir pois, caso contrário, ofenderia os franceses. Tragicamente, como aconteceria muitas vezes ao longo do seu reinado, Nicolau assentiu e foi ao baile com a esposa. Foi comentado  por Sergio Witte: "Estávamos à espera que a festa fosse cancelada, mas em vez disso, decorreu na mesma, como se nada tivesse acontecido e o baile foi aberto por Suas Majestades a dançar graciosamente."
 
Foi uma noite dolorosa. "A imperatriz apareceu em grande angústia, com os olhos avermelhados das lágrimas", escreveu o Embaixador Britânico à Rainha Vitória. Muitos russos viram o desastre como um presságio de que o reinado seria infeliz. Outros, mais sofisticados ou mais vingativos, usaram a tragédia para expor a falta de humanismo da autocracia e a completa superficialidade do czar e da sua "mulher alemã".

Alexandra era odiada na corte e pelo povo russo. Quando apareceu pela primeira vez,  estava calada, de aparência fria, arrogante e indiferente. Ficou magoada pela sua recepção muito pouco entusiasta e afirmou estar cansada da perda de morais e etiqueta da corte russa.


VIDA NA CORTE RUSSA
 

Durante um baile, Alexandra reparou numa jovem mulher  que, na sua opinião, tinha o decote demasiado baixo.  Uma dama-de-compainha foi logo despachada com a seguinte mensagem: "Minha senhora, Sua Majestade deseja informá-la de que em Hesse-Darmstaddt não usamos nosso vestidos dessa maneira." A mulher respondeu: "Sério?, ao mesmo tempo que puxava o decote um pouco mais para baixo. "Então, diga a Sua  Majestade  que na RÚSSIA é assim que usamos os vestidos."
 
Ninguém poderia mesmo imaginar que houvesse quem simpatizasse com tal intrometida. Como diríamos hoje: "Podia ter dormido sem essa." Brincadeiras à parte, esse incidente dá o tom do relacionamento que reinava entre  Alexandra e  seus súditos, mesmo sendo da nobreza.
 
Mesmo muito afeiçoados entre si, a impressão que o casal  passa é a de não conseguir ser simpático ao povo. Alexandra fez poucas tentativas de formar laços de amizade com a  grande família Romanov, e em geral frequentava o menor número de reuniões da corte possível. A Imperatriz era negativamente comparada à mãe do Czar, Maria Feodorovna. Na Rússia, Maria ofuscava a sua nora, ao contrário do que ocorria na maior parte das cortes européias  A atitude teimosa de Alexandra não lhe permitia que aprendesse nada com sua experiente sogra, que a poderia ter ajudado muito. Maria Feodorovna tinha vivido 17 anos na Rússia antes de subir ao trono enquanto que Alexandra tinha passado pouco mais de um mês no país antes de se casar.


A tia da czarina, Vitória, disse numa carta à Rainha Vitória que " a Alice é muito autoritária e insiste em ter tudo feito à maneira dela. Ela nunca vai conseguir manejar nem um pouco do poder que ela acha que tem..." De fato, Alexandra era fortemente protetora do papel de seu marido como Czar e apoiava ativamente o seu direito de governar de forma autocrática, apesar da Russia já ser uma monarquia constitucional, como acontecia no resto Europa. Mas a Rússia ainda conservava muito de seus hábitos absolutistas e  a czarina defendia com fervor o direito divino de seu marido governar e acreditava ser desnecesssário  pensar na aprovação de outras pessoas.
 
Para o povo russo, Alexandra era uma alemã fria que não conseguia ver a necessidade daqueles que a rodeavam a não ser que fossem da família, tal e qual o seu marido e, até certo ponto, tinham razão. Desde sua infância tinha sido muito tímida, uma característica que partilhava com sua avó Vitória. Ela odiava aparições públicas e as evitava, aparecendo apenas quando era absolutamente necessário.  Alexandra preferia retirar-se para trás da ação, oferecendo o caminho a sua sogra. Essa timidez e desejo de estar sozinha tiveram um grande impacto nos seus 5 filhos e no Império. Ela nunca se esforçou para ser amada pelo povo russo.
 
Quase um ano depois do  seu casamento, Alexandra deu à luz uma filha, Olga.  Ela não poderia herdar, pois o trono estava reservado para um filho homem. Mas foi motivo de muita alegria para seus pais que chegaram a afirmar que preferiam uma menina, porque se fosse um rapaz ele pertenceria ao povo russo, enquanto uma menina pertencia só a eles. Tiveram ao todo 5 filhos, sendo 4 meninas primeiro e o  tão sonhado herdeiro,  o caçula. Foi uma trajédia todos terem sido assassinados no mesmo dia. As filhas:
 









Grã-duquesa Olga Nikolaevna,assassinada  aos 22 anos, em 17 de julho de 1918.

Grã-duquesa Tatiana Nikolaevna, assassinada aos 21 anos, na mesma data.







 

Grã-duqueza Maria Nikolaevna  assassinada aos 19 anos, na mesma data. Discutiu-se sua possível sobrevivência ao massacre que vitimou a família até o seu corpo ser descoberto em 2007.
Grã-duquesa Anastácia Nikolaevna, assassinada aos 17 anos, na mesma data. A sua possível sobrevivênciafoi discutida até 2007 e foi um dos maiores mistérios do séc. XX.

Grão-duque Czarevich Alexei, assassinado aos 13 anos, na mesma data. Também no seu caso discutiu-se uma possível sobrevivência até o seu corpo ser descoberto em 2007.

Todos foram assassinados pelos bolcheviques em Yekaterinburg e todos foram porteriormente canonizados pela Igreja Ortodoxa Russa. Nenhum deixou descendentes.

A filha mais velha, Olga, dava-se melhor com o pai. Era tímida e submissa e impressionava as pessoas com a sua bondade, inocência e a força de seus sentimentos privados. Gostava muito de ler,  tanto ficção como poesia.

Alexandra era muito mais próxima de sua segunda filha, Tatiana. Tanto em público, como em privado, Tatiana rodeava sua mãe de atenção. Durante os últimos meses da família, Tatiana ajudava sua mãe a mudar de lugar para lugar, passeava-a pela casa em sua cadeira de rodas, tentando animá-la.

Maria gostava de falar em casamento e filhos e Anastácia, a mais nova e mais famosa, era ainda um pequeno diabrete. Em privado tratavam os pais de "papá" e"Mamã", mas em público tratavam-nos por "Imperador" e "Imperatriz. Em 1917  quando de suas apresentações à Sociedade, as irmãs tinham florescido e se tornado em jovens mulheres cujos talentos e personalidades, como o destino decretou, nunca seriam totalmente reveladas.
   
ALEXEI E A HEMOFILIA NAS FAMÍLIAS REAIS EUROPÉIAS
 

Bom, não bastasse ser tímida, introvertida, reservada, autoritária, defensora do direito divino dos reis, "para mim tudo para os outros nada", vivendo no fausto e luxo de uma verdadeira torre de marfim, materializada sob a forma  dos diversos palácios dos Romanov, alheia a tudo e a todos  a não ser sua pequena família, Alexandra ainda teve outras trajédias em sua vida. Além do seu próprio estilo de ser, que era por si só uma trajédia, como dito acima, ficou órfã de mãe aos 6 anos de idade. Muita gente fica. Casou-se com o noivo escolhido por ela, mas infelizmente ele era o czar e ela teria obrigações que nunca cumpriu, preferindo ficar isolada e odiada por todo um povo.
 
É lógico que o povo esperava por um herdeiro o mais rápido possível, mas ela  só o conseguiu depois de ter dado à luz 4 filhas. Aí sim, Alexandra cumpriu seu papel mais importante como czarina. E aí começou a verdadeira trajédia de sua vida, pois, o bebê quando caía ou encostava em algum móvel, as suas nódoas não saravam e o seu sangue demorava muito a estancar. Alexei sofria de hemofilia, doença que só podia ser transmitida pelo sangue materno. Geralmente a hemofilia era fatal no início do séc. XX e tinha entrado nas casas reais européias através das filhas da Rainha Vitória, que era, ela própria, portadora do gene. Vários de seus sobrinhos morreram por causa da doença.
 
Sendo a doença incurável e uma constante ameaça à vida, tomou-se a decisão  de manter o estado de saúde de Alexei escondido do povo russo. Como  portadora é provável que tivesse uma coagulação mais baixa do que o normal. Somando-se isso à constante preocupação com o filho e à um provável sentimento de culpa(sem motivo) pode ter dado o motivo para  sua suposta saúde fraca.
 
Alexandra era totalmente devotada ao filho, que era o centro de suas atenções. Tendo de viver com o conhecimento que lhe tinha transmitido a doença sanguínea, Alexandra vivia obcecada com a idéia que tinha de proteger o filho e mantinha um olho  em cima dele o tempo todo.

A czarina voltou-se para os médicos russos para tratar de Alexei, mas os tratamentos geralmente falhavam, uma vez que não era conhecido nenhum tipo de cura. Sofrendo com o fato de saber que qualquer queda ou corte poderia matar seu filho, a Imperatriz recorreu a Deus, passando horas e horas a rezar em sua capela privada, o que a levou a familiarizar-se com os rituais e Santos da Igreja Ortodoxa.
 
Quando o estado de saúde de Alexei se agravou e foi finalmente tornada pública, Alexandra tornou-se uma figura ainda mais odiada pelo seu povo. Em seu desespero, Alexandra começou cada vez mais a confiar em místicos e nos chamados "homens santos". O palco estava armado para a entrada de Rasputin, que tanto mal fez à dinastia que se deteriorava. Foi mais uma trajédia na vida da Czarina.


RASPUTIN
 Foi então que apareceu Rasputin, uma figura meio lendária, dessas de quem a gente diz: "Yo nó creo en brujas, pero que las, las hay." Sua trajetória teve início na década de 1860, na Sibéria. Era pobre e apenas parcialmente alfabetizado, provavelmente ajudava o pai camponês nas suas tarefas diárias. Nas horas livres divertia-se com brigas, bebidas e mulheres, envolvendo-se em brigas com vizinhos. Por esse motivo logo ganhou o apelido de Rasputinik, que equivalia a pervertido.
 
Sua terra natal era de religiosidade e misticismo muito intensos. O jovem Rasputin cresceu influenciado por essa atmosfera. Conta-se que na sua juventude já dava sinais de possuir uma percepção especial, ou capacidade de prever fatos futuros. Começando a viajar pela Rússia,  entrou em contato com uma seita conhecida como Flagelantes, que pregava que o ato sexual era uma forma de obter a salvação espiritual.


Por onde Rasputin passava, os habitantes procuravam-no em busca de suas bênçãos; em troca, ofereciam-lhe comida, roupas e dinheiro. Logo sua fama de "homem santo" disseminou-se na Europa Central. Rasputin contava que, um dia, arando a terra, apareceu-lhe um anjo, dando-lhe a missão espiritual de ajudar os necessitados.
  
 O BRUXO DOS CZARES
Pergunta-se: como uma pessoa de origem tão humilde chegou a entrar em contato com o casal real? Ele chegou pelas mãos de Anya Vyrubova, amiga próxima da czarina. Em 1905 Anya feriu-se gravemente quando o trem em que viajava descarrilhou-se. Desenganada pelos médicos, Rasputin foi chamado. O místico, ajoelhado junto à cama, segurou-lhe a mão e chamou seu nome ineterruptamente, por horas seguidas, até que a vítima, de forma inexplicável, despertou.
 
Assim, sempre que o estado de saúde do czarevich piorava, Rasputin era imediatamente solicitado e ajoelhava-se ao lado do leito da criança, por horas  seguidas, se necessário. E Alexei sempre melhorava. 

A verdade é que Grigori Rasputin, assassinado em  1916, foi um dos personagens mais enigmáticos e espantosos do período que antecedeu a Revolução Russa em 1917. Era uma mistura de homem santo milagreiro com o charlatanismo, que, sem ter nenhum cargo no governo imperial russo , exerceu uma enorme influência na dinastia Romanov.
 
A corte em São Petersburgo  era pródiga com os advinhos, os ilusionistas, os hipnotizadores e os charlatões que encontravam junto ao casal real uma  simpática acolhida. Quanto mais o regime era  isolado e odiado pela multidão, mais Nicolau II e sua   mulher se cercavam de gente estranha, apelando crescentemente para o sobrenatural e para as forças do além, incapazes que eram de lidar com a situação.
 
Rasputin, porém, foi diferente dos demais, pois ele ultrapassou todos os limites. Os pequenos acidentes do czarevich, devido à hemofília, colocavam a família em polvorosa. A czarina se contorcia em culpas,  e esquecendo do  povo russo e de sua situação real, entregava-se cada vez mais nas mãos daquele que seria em grande parte a causa de sua ruína. Foi numa terrível crise  de Alexei, com o menino já quase A MORTE, que brilhou a estrela de Rasputin.

 

                                              Por incrível que pareça aquele camponês rude e analfabeto tinha entrada livre no palácio real, onde era visto  como uma força viva da natureza e  legítimo representante da Santa Rússia. Com enorme concentração e profusão de preces ditas num idioma incompreensível, ajoelhado ao lado do leito do garoto, Rasputin conseguia fazer sempre que o adoentado se recuperasse. Para a família real ele passou a ser um enviado de Deus. E para qual  família não seria? Pois  rudeza, bebedeira, mulheres,etc., à parte, ele conseguia que o menino melhorasse.  E para Alexandra, como mãe, isto é o que valia.
 
A sua consagração junto aos soberanos - como homem santo oficial - fez com que cessassem os seus tempos de peregrinação, fome e vagabundagem. Doravante estaria à disposição dos monarcas a qualquer momento. Não demorou muito para aquele homem esperto  e vivo tirasse todo o proveito possível daquela situação. Na correspondência da czarina com seu marido, ele é referido como o "Amigo." Não havia nomeação, transferência ou decisão importante a ser tomada por Nicolau II sem que ela rogasse que "escutasse o Amigo". Sabe-se que geralmente com sucesso. O fato é que o enorme império dos Romanov, o maior em extensão em toda a Terra, passou a ser indiretamente regido por um bruxo.

Grigori Rasputin assumiu de forma irônica o apelido pejorativo que lhe foi dado; foi um camponês que, sem cultura, poder político ou financeiro, alcançou um dos mais altos postos do governo russo. Não é possível afirmar que ele possuía realmente "dons especiais", mas o fato é que toda a sua vida foi alvo de especulações. Toda a sua biografia é repleta de lacunas, mas, com certeza, são essas incertezas que fazem de Rasputin um dos personagens mais intrigantes e misteriosos da história recente da humanidade.

Em 1915, consta que Rasputin convenceu Alexandra a que o czar devia partir para a frente de batalha, para se encarregar pessoalmente do Comando do Exército. Assim ele teria passe livre no palácio, já que a Alexandra fazia tudo que ele queria.  Nicolau deixou a czarina como regente, e durante os dois anos e meio que se seguiram  o governo russo deteriorou-se mais rapidamente que em qualquer período da história.
 
A Imperatriz teria dito  ao embaixador britânico: "Não tenho paciência com esse ministros que o tentam impedir (Rasputin) de cumprir o seu dever. A situação exige firmeza. O Imperador, infelizmente, é fraco, mas eu não e pretendo manter-me firme."

Assim, enquanto o país afundava-se no desastre e no desespero, os cortezãos mais próximos do czar  passaram a não poder mais suportar  as intromissões de Rasputin nos negócios do governo. Alguma coisa tinha de ser feita. E foi. Logo armou-se um plano do qual faziam parte a alta nobreza, até mesmo um membro da família real, o grão-duque Dimitri. Para resumir, na casa de Félix Youssoupov ofereceu-lhe uma série de brindes contendo cianureto. Em determinada altura Rasputin arriou. Caiu no sofá, resvalando para o chão. Havia no vinho e nos doces oferecidos cianureto capaz de matar um cavalo, mas qual não foi a surpresa de Youssoupov quando deparou com Rasputin erguendo-se do chão, quando já o julgava morto. O príncipe disparou duas vezes em Rasputin. Vladimir Purishkevitch descarregou sua arma sobre o corpanzil de Rasputin, que naquela altura ensaiava uma fuga. Bom, os conjurados conseguiram amarrar o corpo de Rasputin, que ainda tentava resistir, fizeram um buraco no congelado rio  Neva, onde finalmente Rasputin encontrou a  morte, em 1916.

Conta-se que Rasputin tinha previsto sua morte e profetizado uma tragédia. Numa carta enviada ao czar, o bruxo dizia que se Nicolau ou qualquer membro de sua família tivesse a intenção de assassiná-lo, nem o czar nem ninguém de sua família viveria por mais de dois anos. Profecia ou não, o fato é que dezenove meses após a morte do místico, o czar e toda a sua família foram executados por revolucionários bolchevistas.

REVOLUÇÃO E EXÍLIO
 A grave situação política e econômica do país acabou por resultar na Revolução de Fevereiro de 1917.

Num esforço para por fim aos acontecimentos que se desenrolavam na capital, Nicolau tentou chegar à São Petersburgo, contudo o seu caminho foi bloqueado em Pskov onde, depois de ser aconselhado por todos os seus generais, abdicou por si e por seu filho Alexei.

A partir daí, foi só ladeira abaixo, de rebaixamento a rebaixamento, humilhação a humilhação, até a perda da própria vida.

Alexandra ficou numa situação perigosa, como esposa do Czar deposto, odiada pelo povo russo. Nicolau finalmente recebeu autorização para regressar ao Palácio de Alexandre em Czarskoe Selo, onde ficou sob prisão domiciliar juntamente com sua família.


O Governo Provisório, formado depois da revolução, manteve Nicolau, Alexandra e seus filhos limitados a residência  no Palácio de Alexandre, até serem  deslocados para Tobolsk a 1 de agosto de 1917, uma decisão tomada com o objetivo  de manter a família afastada da capital e do perigo.

Alexandra e sua família  permaneceram em Tobolsk até depois de Revolução de Outubro, mas acabaram por ser deslocados pelos  bolcheviques para a cidade de Ekaterinburgo em abril de 1918 onde ficaram na Casa Ipatiev, sua última moradia.

Alexandra e Tatiana
A Casa Ipatiev  era guardada constantemente por 75 homens. Para os Romanov a vida tornou-se um pesadelo de incerteza e medo. A família Imperial nunca soube se iria lá continuar no dia seguinte, se seriam separados ou até mortos. Os privilégios que lhes eram permitidos eram poucos. Durante uma hora, à tarde, podiam se exercitar no jardim morto sempre sob  vigilância apertada dos guardas. Alexei não podia andar depois de outro ataque de Hemofilia, por isso era o seu marinheiro Nargony que o transportava. Alexandra raramente se juntava à família nessas atividades.  Geralmente passava a maior parte do tempo em sua cadeira de rodas lendo a Bíblia ou o livro de São Sulpício. A noite os Romanov jogavam cartas  ou liam. Recebiam muito pouco correio do mundo exterior e os únicos jornais permitidos eram edições já ultrapassadas.


Palácio de Inverno
FAMÍLIA ROMANOV
Não há dúvida que deixar o Palácio de Inverno  pela casa Ipatiev foi uma longa descida, um longo martírio...Houve muita dor, muita humilhação, e um desapego conseguido por forças das circunstâncias...enfim, um longo calvário que terminaria na noite de 17 de julho de 1918. Naquela noite, os guardas praticamente tiraram a família real da cama  com o pretexto de tirar uma fotografia não sei para quem. À eles, só restava obedecer sem nenhuma  reclamação. E assim foi feito. Desceram todos ao porão da casa, onde ficaram juntos, quando viram os guardas entrando e começando a atirar. Não houve tempo para nada.


CASA IPATIEV
Ocorre que a tzarita e as meninas tinham jóias costuradas nos coletes que usavam por baixo das roupas e a impressão, para os guardas, é que atiravam e as balas ricocheteavam. Esse fato apavorou os guardas, pois de certo modo eles tinha sido educados para acreditar que a família real governava por direito divino e estavam de certa forma protegidos por Deus. Usaram então as baionetas, mas como essas não deram conta  de todo o grupo, atiraram em suas cabeças.

VEDAÇÃO DE MADEIRA DA CASA IPATIEV
Alexandra, última czarina da Rússia, o maior império existente então na Terra, morria assim aos 48 anos.
 




PORÃO DA CASA IPATIEV APÓS O ASSASSINATO DA FAMÍLIA ROMANOV
Da Casa Ipatiev os corpos foram levado para uma floresta próxima num caminhão, onde puseram fogo em seus corpos e os enterraram numa gruta. Deram por falta de dois dos corpos, mas julgaram que havia caído no caminho, e não havia tempo de procurá-los pois estavam envolvidos numa missão secreta. Isso deu margem a lenda que uma das filhas e o czarevich haviam escapado do massacre que vitimara sua família.
 
Bom, moral da história: passados muitos anos, em 1891, a família foi reconhecida como mártir e canonizada pela Igreja Ortodoxa Russa.

Em 1998 os corpos foram finalmente enterrados na Catedral de São Pedro e São Paulo, em São Petersburgo.

Em 2008 o Supremo Tribunal Russo decidiu que o assassinato da família imperial foi um ato político e que a família do czar devem ser consideradas vítimas do bolchevismo.

ELES ERAM INOCENTES DE QUALQUER CRIME E DEVEM SER  LEGALMENTE REABILITADOS.
 
Moscow decidiu que a sua morte foi ilegal. A decisão não pode mudar em nada a vida da família, mas representa um marco: foi o mais próximo de que qualquer governo pós-soviético tenha vindo a aceitar que a natureza  do governo bolchevique foi criminosa.

Quanto à  Casa Ipatiev, nos anos 70 tornou-se motivo de peregrinação para aqueles que queriam honrar a memória da família imperial. Então em 1978 o Politiburo declarou que a casa não tinha "valor histórico suficiente" e ordenou a sua demolição.

Após a queda da União Soviética" foi erguida uma cruz no local onde antes se encontrara o porão, de forma que não se esquecesse as atrocidades lá cometidas.

Assim termina a história de Alexandra, última czarina da Rússia, uma mulher comum, que embora nascido em berço de ouro e senhora de uma da maiores nações da terra, sofreu como mulher, como mãe e como esposa, padecendo as mesmas dúvidas e dores que quaisquer uma de nós - quiçá mais. 

Mais tarde foi construída a Igreja do Sangue Derramado de Todos os Santos perto do local, para que todos pudessem prestar sua homenagem aos Romanov.