Sem recursos e com pouco instrução, Eva Perón nasceu em 1919 em Los Toldos, Argentina. Sua infância foi pobre, mas digna. Sua mãe, Juana Ibarguera, era uma costureira obsessiva com a limpeza, extremamente organizada e amante do estancieiro Juan Duarte. Depois da morte de Juan, em um acidente de carro, Juana mudou-se com os filhos, todos dele , para Junin, fugindo da humilhação da condição de amante. Juan Duarte registrou todos os filhos que teve com a costureira como seus, menos Evita. Pouco depois mudaram-se todos para Buenos Aires, onde Eva, como todas as adolescentes sonhava em ser uma estrela de teatro, de cinema.
Eva Perón passou por muitas dificuldades até chegar a ser uma atriz de certo renome no rádio, onde participava de um programa de muita audiência e fazia algumas peças de teatro. Durante uma campanha de socorro às vítimas do terremoto de San Juan, em 1944, ela conheceu Juan Domingo Perón, Ministro do Trabalho. Tornaram-se amantes, e depois de tingir os cabelos de louro para um filme, o que conservaria para o resto da vida, Eva falsificou seus documentos, transformando-se em Maria Eva Duarte, nascida em Junin, em 1923, para poder casar-se legalmente com o coronel Perón em uma cerimônia íntima e com poucos amigos.
Perón, um solitário que nunca deixava saber exatamente o que sentia, tinha uma personalidade peculiar e ambígua. Sorria sempre, conquistava pelo sorriso , mas o que lhe marcava a complexa e ao mesmo tempo tosca personalidade era o olhar, olhar típico de caçador, com extrema capacidade em dissimular. Só não sabia que Eva era também uma caçadora e, com o casamento, formou-se ali uma sociedade de idéias e interesses que os levou aos limites do poder, da glória, da riqueza e por fim, da ruína, da desmoralização mas jamais do esquecimento e da indiferença.
Eles precisavam um do outro, com suas virtudes e defeitos. Através do nome e imagem de Perón, Eva conseguiu a sua ambição de obter uma parte do poder total. Eva Perón foi, na verdade, a grande responsável por medidas reformistas em toda à Argentina. À ela se deve o fato dos trabalhadores passarem a ter segurança social, cuidados médicos estatais, pensões e o voto das mulheres. Deve-se também a ela o ter expulso as multinacionais do país e a nacionalização das mesmas.
Depois de trabalhar duramente nas campanha presidencial que levou Perón ao poder em 1946, Eva foi à Europa de onde retornou três meses depois com um guarda-roupa repleto de roupas de grife. Uma matéria publicada na revista Life, em 1950, mostra seus inúmeros armários com jóias, peles, sapatos e vestidos de grandes estilistas, o que causou espanto na comunidade internacional.
Essa viagem "promoção" de Eva da Nova Argentina Peronista, sempre teve algo de misterioso, de pouco claro, já que boatos de assuntos do ouro nazista ou obras de arte desaparecidas nunca ficaram esclarecidas, e ainda hoje não o são.
Famosa por sua elegância e por seu carisma, Evita conquistou para o peronismo a população pobre, a maioria de migrantes rural, a quem ela chamava de "descamisados".
"Ligando à figura mundialmente conhecida de Evita, uma glória "hollywoodiana" de proporções desmedidas, com a moça simples, a criança ultrajada, podemos chegar a conclusão que Eva foi provavelmente uma personalidade dividida. De um lado, repleto de altruísmo e generosidade, há a moça simples,"revoltada com a injustiça", de outro, no entanto, a mulher seduzida pelo poder.
Como primeira-dama, Evita desenvolveu um trabalho intenso no lado político, criando o Partido Peronista Feminino , dando direito de votos as mulheres, em 1947. Ao mesmo tempo, do lado social , desenvolveu a Fundação Eva Perón, onde trabalhou cerca de 18 horas por dia, distribuindo alimentos, roupas, construindo hospitais, escolas, lares para mães solteiras e asilos para idosos. Apesar de ter ganhado a simpatia das classes mais baixas, Eva era atacada pela oposição, que transferiu para ela a antipatia e rejeição que sentia por Perón.
No âmago de suas preocupações sociais mais profundas, encontra-se uma infância pobre e uma mãe humilhada pelas circunstâncias. Promovida pelo peronismo e sendo principal fator de legitimação deste, a figura de Eva irá se confundir com a de uma grande estadista. Eva torna-se mais importante que a própria imagem da Argentina real, uma vez que esta imagem é representada revestida de um aparato e de uma glória que não correspondem à realidade social da época".
Em pouco tempo, a estrela de Evita parecia ameaçar o próprio marido. Sua fama provocou uma reviravolta política quando, durante um comício marcado pela presença do casal, a multidão gritava a favor de uma chapa eleitoral composta por Juan Perón, presidente, e Evita, mãe dos pobres, como vice.
Mas, a essa altura Evita já sofria de uma câncer no útero. Além disso, o casal entrou em crise pois Perón olhava com grande desconfiança e receio a ascenção política de sua própria mulher. A tensão instalada no próprio relacionamento e a doença impediram que Evita Perón aceitasse o convite feito pela população. Depois disso Evita se recolheu aos aposentos presidenciais para viver os últimos dias de sua terrível agonia.
O mais impressionante na história da vida de Eva foi o caminho meteórico que ela percorreu na vida pública. Entre a total obscuridade ao mais absoluto resplendor pessoal e político da vida e em seguida a morte, tudo ocorreu em apenas 7 anos. Nesse curto período ela saiu do anonimato para se tornar uma das mulheres mais importantes e poderosas do mundo. Na breve existência (morreu aos 33 anos) há muitos mistérios, muitos fatos obscuros mas há principalmente uma personalidade tragicamente marcante.
"Figura chave de um regime paternalista e demagogo, Evita resiste, no entanto, como uma imagem ao mesmo tempo alheia e superior ao mesmo. Mais do que uma estadista, mais do que um pivô ou um esteio sobre o qual o governo de Perón se apoia, Evita ganha voz própria porque ela encarnou em si uma série de ambições e pretensões sociais. Sua transcendência está consubstanciada na sua fantástica ascenção sócio-política. Uma bela mulher, que venceu na vida através dos mecanismos próprios de uma mulher, só poderia espelhar um sistema de poder centrado na sedução. E só através da sedução coletiva das massas , e do fascínio, da ascese que esta sedução acarreta, que pode firmar-se um regime deste tipo".
Em determinado momento, fruto da criação de Eva Duarte, surgiu o personagem "Evita". A própria Eva tinha consciência da existência autônoma de sua personagem, que ela transformou em uma segunda personalidade: para os "descamisados" Evita nunca foi uma líder ideológica. Para eles ela era mais. Era mais que a mulher do grande Perón, era a líder espiritual da nação argentina, quase uma santa.
Para muitos, Eva Perón foi, na verdade, a única voz retumbante no coração do povo pobre e trabalhador da argentina; foi, para os miseráveis, a única referência confiável e capaz de unir, se quisesse, com um gesto apenas, todas as vontades numa só, todas as vozes em uma só, a voz do povo explorado e espoliado pela classe rica e insensível às suas necessidades mais elementares.
Eva Maria Perón atingiu um poder absoluto na Argentina entre 1948 e 1951. Era ela quem comandava as operações de todo o staff Perón. Jamais uma mulher em qualquer parte do mundo conseguira tanto poder em tantas áreas distintas e sensíveis.
Evita morreu em 1952, arruinando todas as possibilidade de preservação do peronismo. A sua morte se seguiu uma das maiores comoções públicas já registradas na Argentina. Em um ataúde com tampa de cristal seu corpo foi trasladado para a sede da CGT (principal organização sindical do país), onde intermináveis multidões de "descamisados", a gente simples do povo, desfilaram em massa compacta, dias e noites seguidos, para o último adeus.
Em sua homenagem já foram compostas duas óperas, um filme e uma música: Perón não é mito, é apenas uma figura histórica. Ninguém se interessa por Péron profundamente hoje em dia, a não ser que seja um historiador. Mas todos conhecem Evita, e seu jeito de ser, seu look. Perón pode ser discutido hoje em dia , mas Evita é intocável. É um mito.