ÁRTEMIS : O CORAÇÃO DA CAÇADORA SOLITÁRIA




Ártemis, mais tarde a Diana romana, é uma deusa esguia, virginal e seminua, acompanhada por seus cães e trazendo um escudo dourado nas mãos. Em muitas versões do mito grego, ela aparece pura e bela, mas sem vivacidade. Mas a realidade é que Ártemis era a deusa grega mais popular, e seu culto superava o de Deméter, de Atena e de Afrodite.

No dizer de Martin Nilson: "Ártemis era a deusa mais popular da Grécia, mas a Ártemis da crença popular era uma pessoa bem diferente da virgem altiva  da mitologia, irmã de Apolo". Ártemis é a deusa da natureza selvagem; ela  ronda as florestas os bosques e as campinas verdejantes, onde caça e dança com as ninfas que a acompanham. Ela protege e  acalenta os rebentos dos animais e as crianças humanas. Em seu culto, estão presentes danças orgiásticas e o ramo sagrado...
 

Um dos mais grandiosos templos do mundo grego era dedicado à Ártemis: o famoso templo de Diana, em Éfeso, na Asia Menor(hoje Turquia).
 
Ártemis era a própria Grande Mãe, tríplice em seu poder, como a lua nova,a lua cheia e a lua minguante: a Virgem, a Mãe e a Anciã. Mas o patriarcado grego veio a julgar mais satisfatório manter esses poderes separados. De modo que restringiram o papel da Mãe basicamente à Deméter, imputaram a proximidade da Anciã com morte à Perséfone e Hécate e sentimentalizaram a complexa psicologia natural de Ártemis na de uma escoteira adolescente brincando com arcos e flexas na floresta.

Porém, na cultura grega, apesar de ser guerreira e mais tarde colonizadora,  a caça tornou-se mais um esporte do que um modo de vida: Ártemis e outras figuras caçadoras eram meros vestígios, memórias obscuras de um tempo em que homens e mulheres viviam mais próximos da natureza selvagem.

A sabedoria de Ártemis foi preservada em todas as questões ligadas ao parto e à proteção das crianças e animais de peito. Era a padroeira das parteiras. Mas a imagem  de feroz caçadora foi conservada viva na religião popular.

 
ÁRTEMIS NO MUNDO MODERNO: UMA DEUSA DESLOCADA
Ártemis não se destaca muito no mundo moderno. Ela não se sente verdadeiramente à vontade na cidade, com seu ritmo acelerado e  altamente tecnológico de vida e seus valores de ascensão social. Quando a encontramos no meio urbano, ela nos parece tímida, esquiva e reservada.


Transmite uma energia que não é mental, porém física; provém de seu corpo ágil e atlético que adora envolver-se fisicamente no projeto do momento. A mulher-Ártemis está ligada apenas superficialmente no mundo  "civilizado". Ela não se sente à vontade na cidade porque, no fundo, seu lugar são os campos e a floresta.

Para encontrar a mulher-Ártemis em seu próprio ambiente , é preciso sair das cidades e das estradas: em outras palavras, na NATUREZA. Poderemos encontrá-la cavalgando à frente de excursões pelas Montanhas Rochosas ou cultivando um sítio no norte da Califórnia. Talvez  a encontremos em roupas de mergulho em uma equipe de biólogos marinhos, ou fotografando a fauna e flora do Alasca. Ela poderia ser uma pintora e escultora, vivendo como uma artista à beira do deserto do Novo México.


 A mulher-Ártemis costuma apreciar um estilo rude de vida, em termos físicos, e está preparada para isso.Frequentemente parece estar apta a viver sem os homens. Na verdade, nem ela nem sua irmã Atena tiveram um amante conhecido na popular mitologia grega. Em termos psicológicos,  isso é porque ambas representam tipos de mulheres que já nascem com fortes qualidades "masculinas" em sua constituição.

A CHAGA DE ÁRTEMIS
A chaga de Ártemis envolve a solidão  de ser  relegada, psicológica e às vezes literalmente, às margens da sociedade. Foi-lhe negada qualquer verdadeira identidade enquanto mulher.

Seu amor ardente pela liberdade e sua atitude mental, sua atitude independente, tornam difícil para ela aceitar o estilo como mãe, esposa ou profissional, que pertencem a Deméter, a Hera e a Atena.



Na realidade muitas vezes ela sentirá desprezo pelos valores e formas da sociedade convencional. E se sentirá magoada pelo fato do patriarcado nunca ter conseguido conter a ferocidade do seu espírito ou reconhecer seus dotes singulares de mulher.
 

WICCA: A VELHA RELIGIÃO 
Atualmente há uma nova comprensão sobre a chamada feitiçaria sob o nome  de Wicca: são os neo-pagãos que tem buscado as origens reais ou a reconstrução do xamanismo. Esta religião-arte nada mais é  que a antiga religião de Diana/Ártemis.

 Aquelas mulheres que praticavam o culto à Deusa Diana vieram a ser identificadas com as assim chamadas bruxas e foram perseguidas e exterminadas.


 As bruxas eram simplesmente curandeiras, geralmente mulheres já idosas, que sabiam utilizar as ervas para várias doenças e serviam como parteiras.
 
 
 Entretanto, junto com a Wicca e outros movimentos semelhantes, está  ocorrendo uma importante ressureição das "antigas tradições" xamânicas de cura nos quatro cantos do mundo.



EM BUSCA DA INDIVIDUALIDADE PERDIDA
Ártemis  atira-lhe sua flecha de  individualidade convidando-a a concentrar-se em si mesma? Você tem estado demasiadamente ocupada com outro? Há bastante tempo não tem um espaço só seu? Os limites de sua individualidade  encontram-se difusos e indistintos? Sua personalidade é desprezada ou aniquilada pelos outros, pois eles sempre impõem suas  necessidades antes das suas?

Pois agora é hora de ser você mesma, se  impor como pessoa com identidade própria e  não viver mais a vida dos outros. É hora de seu resgate individual, pois Ártemis lhe diz que a totalidade é alimentada  quando você se honra, respeita e dedica tempo para você mesma. Ela também pergunta como você pode esperar conseguir o que quer se não tiver  um "eu"a partir do qual atirar para conseguir seu destino?

RESGATE DE SUA MULHER SELVAGEM
 
É hora de clamar pela Mulher Selvagem. Para isso você pode utilizar qualquer meio de meditação que lhe seja usual, mesmo caminhar numa floresta ou   à beira do mar... Você pode gritar, uivar,cantar, dançar, tocar tambor, o que  achar melhor, mas faça bastante barulho, pois talvez a Mulher  Selvagem  esteja bastante adormecida dentro de você. 

 Esse processo deve se dar dentro de você, em seu interior, naturalmente,  a menos que esteja sozinha.  Quando você a enxergar, agradeça sua presença e peça-lhe algo, qualquer coisa.... qualquer coisa...

 
Retornar a Ártemis e aos valores da Terra é uma revolução profundamente espiritual: estamos testemunhando um redespertar para a energia do espirito da terra e para a comunhão espiritual .



O RETORNO DE ÁRTEMIS


 Virgem Ártemis, arquétipo de uma feminilidade mais pura e mais primitiva, começa a tornar-se importante novamente. Por muito tempo, permanecemos sem representação da feminilidade absoluta, isto é, que não fosse definida pela sua relação com um amante (Afrodite) ou com um filho (Deméter ou Maria, Mãe de Jesus), ou com um pai(Atena),ou com um marido(Hera).

 Na verdade, a feminilidade raramente é representada em termos absolutos, mas sempre em relação com alguma outra realidade do mundo masculino. Em geral, quando uma mulher se retira para um território fechado aos homens, ela é vista como uma pária, uma feiticeira ou uma louca.


Quando retratada na literatura, no cinema ou na televisão, a virgindade feminina surge numa história em que um homem invade esse domínio e a tranforma numa "mulher de verdade" - como se a feminilidade jamais pudesse ser completa em si mesma.

 Quanto à mulher que ousa permanecer em seu retiro, passam-nos a impressão que ela é feia demais, mal-humorada demais ou, de alguma forma, deficiente. Ela inspira mais desconfiança do que estima. Em contraste, admiramos figuras de ermitões, sábios, iluminados ou simplesmente homens solitários; eles não nos são apresentados como incompletos por manter em distância do sexo oposto ou por se preservarem castos.


Ártemis, que é lindíssima, tão linda quanto Afrodite para alguns, vem assim santificar a solidão, a vida natural e primitiva à qual todos podemos retornar quando julgarmos necessário nos relacionarmos apenas com nós mesmos.

 Amazona e arqueira infalível, Ártemis garante a nossa resistência a uma domesticação que seria completa demais.

Além disso, uma figura ligada a fauna e a flora, ela é uma figura ligada ao debate ecológico contempâneo e às opções sociais dele decorrentes.

Na Europa, o  Movimento Verde,que é símbolo de uma consciência puramente artemisiana, nascido do movimento anti-nuclear, despertou a consciência dos perigos da poluição química e nuclear em escala global.


Pela primeira vez todos começaram a falar do meio ambiente e da necessidade de uma ciência que preserve os mundos animal e vegetal, preservando assim o equilíbrio da natureza; ecologia tornou-se uma palavra na boca de todos.

CULTO À VIRGEM
Poucos se dão conta de que o culto à Virgem Maria proveio diretamente do século XII. A Igreja temia que a visão liberada que os trovadores tinham das mulheres pudesse comprometer a autoridade sacerdotal e masculina.

 De modo que, depois da cruzada Albigense ( 1209-1220 ), ela aproveitou a oportunidade para atribuir aos trovadores os mesmos erros que imputara aos hereges. Ao mesmo tempo, assimilou a adoração da mulher personalizada do culto dos trovadores à adoração de Nossa Senhora, a Virgem. Carl Jung teceu os seguintes comentários:
As bruxas e Salém
"Essa assimilação à simbologia geral cristã foi um golpe de morte ao culto à mulher, que era um broto que florescia no processo do aprimoramento da alma do homem. A sua alma, que se expressava na imagem da amante escolhida, perdeu a expressão individualizada quando foi traduzida em um símbolo geral."

JUNG FALA SOBRE VIRGEM MARIA E À PERSEGUIÇÃO À BRUXAS...
Jung vê a substituição da mulher de verdade pelo culto à Maria como um grande retrocesso no desenvolvimento psicológico do homens, especialmente no que se refere a capacidade de relacionar-se, além de distrair a atenção das virtudes das mulheres reais.

 Há, porém, uma consequencia ainda mais sinistra nessa repressão: o despertar do arquétipo da bruxa no inconsciente dos homens. Eis como Jung se refere a isso:
"A depreciação da mulher de verdade é (...) compensada por impulsos demoníacos ( do inconsciente, que ressurgem) projetados sobre o objeto. Num certo sentido, o homem ama menos a mulher como resultado dessa depreciação relativa - e assim ela lhe aparece como uma  perseguidora,i.e.,uma bruxa.


 Daí a fantasia medieval sobre bruxas, essa mácula inextirpável sobre o final da Idade Média, surgida paralelamente a - e na realidade, como um resultado da intensificação da adoração da Virgem.

Psycological Yypes.

 
 
TEMPLO DA DEUSA ÁRTEMIS(DIANA),ENTRE OS ROMANOS. NA TURQUIA,ÁSIA MENOR , UM DOS MAIORES DO MUNDO ANTIGO.