INANNA - DEUSA DA SUMÉRIA

  


INANNA, DA  SUMÉRIA
FUI ATÉ LÁ
DE LIVRE VONTADE
COM MEU  VESTIDO MAIS LINDO
MINHAS JÓIAS PRECIOSAS
E MINHA COROA DE RAINHA DO CÉU
NO INFERNO
DIANTE DE CADA UM DOS SETE PORTÕES
FUI DESNUDA SETE VEZES
DE TUDO QUE PENSAVA SER
ATÉ QUE FIQUEI NUA  DAQUILO QUE DE FATO SOU
ENTÃO EU A VI
ELA ERA ENORME E PELUDA E CHEIRAVA MAL
TINHA CABEÇA DE LEOA
E PATAS DE LEOA
ERESHKIGAL, MINHA IRMÃ
ELA É TUDO QUE EU NÃO SOU
TUDO QUE EU  ESCONDI
TUDO QUE EU ENTERREI
ELA É O QUE EU NEGUEI
ERESHKGAL, MINHA IRMÃ
ERESHKIGAL, MINHA  SOMBRA
ERESHKIGAL, MEU EU.
No terceiro milênio a.C., na Mesopotâmia, vamos encontrar o mito  sumério de Inanna, a jovem deusa, que sendo capaz de decidir o próprio destino,  por iniciativa própria desce ao mundo profundo para encontrar sua irmã escura, uma parte perdida de si mesma.


A descida de Inanna ao Submundo conta a história de uma mulher  que se despiu, em sete portais sucessivos, de tudo que ela havia realizado na vida, até estar nua, com nada restando, a não ser a sua vontade de renascer.


Solicitando entrada no kur, o "mundo do não retorno", o guardião pergunta por qual motivo e ela responde que vem por causa de sua irmã mais velha,Ereshkigal, que se contorcia em dores. Foi-lhe exigido, a cada portal, que se desfizessse de uma de suas muitas insignias, de modo que adentrou nua o grande salão real, dirigindo-se diretamente ao trono. "Então Ereshkigal fitou Inanna com os olhos da morte. Ela pronunciou contra ela a palavra da ira. Ela bradou contra ela o grito da culpa." E assim, Inanna tornou-se um pedaço de carne apodrecendo, pendurada num gancho.


Ao desfazer-se de suas insígnias como Rainha do Céu, Inanna vai de encontro aos seus  aspectos mais escuros, mais reprimidos. Inanna e Ereshkigal são  aspectos polarizados de uma mesma totalidade: os aspectos claros e escuros da Grande Deusa. A lua cheia e a lua nova, porque é das profundezas da não existência,do caos,das trevas, que a vida se renova, renasce.

Ao ultrapassar o limiar do kur, o reino da morte sumeriano passam a prevalecer as leis de Ereshkigal. Nada do que aprendemos na vida nos serve perante a morte, nada nos resta a não  ser nos render, nos submeter. Este olhar da morte, impiedoso e frio,  não é fácil de sustentar: ele não se deixa enganar por um desempenho responsável e nem por conquistas ao nível da vontade.


Mas Enki, deus da sabedoria, intervém  em favor de Inanna. Aproximando-se da deusa e ignorando os processos de distância  e das leis do "mundo superior" leva  o aspecto escuro do feminino a tomar consciência da validade de sua experiência de dor. Ao honrarem o sofrimento e validarem essa experiência, possibilitam  a  transformação da destruição em generosidade.  O corpo de Inanna é revificado.


O que chama a atenção  nesse mito  é que nos indica um caminho para reverter a deusa irada em deusa compassiva, ao  contrário da maioria dos mitos, que enfatizam  a transformação da deusa benéfica em seu  aspecto ameaçador. Mas a reversão só é possível honrando,reconhecendo  e validando a experiência da dor e sua causas.


E a origem da dor da ira de Ereshkigal pode ser vislumbrada entre vários fragmentos de outros mitos. Quer eles nos contem que o mundo profundo lhe foi dado como prêmio, ou que ela foi tomada como prêmio pelo mundo profundo, o  que revelam é que ela não está lá desde o início. Ela representa o aspecto do feminino que foi relegado   ao mundo profundo pelo masculino, aspecto este que falta a Inanna, para ser representante  da Grande Deusa da Vida e da Morte.



Na mitologia sumeriana,  a figura da grande deusa já apresenta a sua primeira divisão entre acima e abaixo, tornando necessária a partida para o mundo profundo a fim de recompor a continuidade da vida.
Nada nos assegura que Inanna tenha realizado sua trajetória até o fim, mas ela pelo menos nos mostrou um caminho possível e cada um de nós precisa percorrer  esse caminho  para as profundezas de si mesma, tantas vezes quanto forem necessárias, para encontrar nossas partes exiladas, recuperá-las e integrá-las na totalidade que somos.


Só assim   a totalidade da vida e da morte pode ser restaurada em sua integridade. Apenas quando reconhecemos e  acolhemos  todos os nossos aspectos, podemos recompor nossa integridade e nos tornarmos quem somos verdadeiramente, desde o princípio.

"Depois da dor, vem o  saber
Do saber, surge o crescimento
O crescimento nos leva a transformação
Da transformação emana o poder".


INANNA HOJE


Infelizmente, os  gregos e romanos , que são chamados de "clássicos", fizeram da mulher um ser mutilado de uma parte de si mesma, um ser cindido, maléfico e pecador, uma ameaça para os"santos" padres e condenada aos infernos  e , como sabemos, mais tarde, perseguida e queimada viva nas fogueiras da Santa Inquisição...

A mulher foi banida da história dos homens e condenada ao descrédito, afastada  do seu ser essencial, fato que se repete ainda hoje e de maneira gritante nas nossas sociedades que se pretendiam  civilizadas e onde a mulher intelectual ou "espiritual" julga  que ocupa um  lugar importante, sem perceber que está desligada da sua essência e verdadeira natureza.


Todas nós nos perdemos da nossa verdadeira identidade ao perder uma parte integrante de nós mesmas, mas também os homens, perdendo o seu lado feminino, perderam muito.
À não ser que a mulher acorde para essa parte de si mesma que foi apagada dentro dela,   a  não ser que a Deusa Mãe e a Terra façam a limpeza global do Planeta, não voltaremos a ser humanos como era suposto sermos à partida. Para quem tenha dúvidas, basta olhar com olho de ver à sua volta a crise mundial: ela não é só econômica e financeira, mas uma crise global de valores baseada na falta de respeito pela vida humana e dos animais em geral na terra, dando ênfase à conquista do poder.



Que lavagem de cérebro,  que "educação" tem os poderosos que governam na sombra, que poder, para cegar as pessoas impedindo-as de refletir  e de pensar, para as impedir de agir ou de sequer sonhar ou querer um mundo melhor, um mundo mais justo e igualitário,  sem a Crença consentida para manter a ilusão dos que lutam e trabalham  no sistema que os escraviza ou no deus que os castiga?


Faça o homem o que fizer  neste mundo sem "A Consciência do Feminino Sagrado", sem a elevação da verdadeira Mulher  e da Deusa Mãe,  não a que está nos altares católicos, não poderemos nunca chegar a consciência Suprema, a Alquimia da Mutação nem realizar a Obra para que fomos criados...

UM NOVO SER HUMANO!